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terça-feira, 5 de outubro de 2010

“POBRES O TESOURO DA IGREJA” Agostinho




Sempre que alguém comenta que recebeu um missionário em sua igreja e ficou chocado com as fotos de pobreza, tais como: crianças encima de formigueiro, sendo comida por urubu, outros com queimaduras graves, marcas no corpo e por ai vai..

Meu coração balança e logo lembra da musica de Tiken jah que diz:

Venha vê, venha vê, você que passa sem perceber...

Minha África não é isso que o povo te faz olhar...

Porque sempre os mesmos comentários,

Porque sempre as mesmas reportagens,

Quando você escuta pensara que aqui é só a seca, fome e miséria.

Quando você lhes escuta a África não passa de um campo de batalha e terror.

Venha vê, venha vê, você que passa sem perceber...

Venha em nossos vilarejos e você saberá o que é hospitalidade, um ombro amigo.

Gente que não tem nada mas que te oferecerá o melhor.

O sorriso, a generosidade, sinceridade, amizade.

Venha vê, você que passa sem perceber...

África não é isso que te fazem crer.

Na verdade existem duas áfricas, respondo aos irmãos: África objeto e África sujeito:

A objeto é justamente essa que os “homens de deus” mostram para arrecadarem fundos e mais fundos. É fácil dizer que a África é quente, fazendo 60º, etc, mas quem diz isso mora em casa com ar-condicionado.

Essa maquina suja de assustar os que nunca vieram a África é usada há anos. Mas o que dizer da Copa do Mundo, o que foi mostrado bate com as noticias assombrosas que ouvimos¿ Penso que deveríamos ter um órgão como a FUNAI para proteger os povos e sua cultura aqui no Sahel de todas aberrações dos que passam por aqui sem saber e estão sempre a descrever.

Quando a África se torna objeto inconscientemente o individuo se torna insensível as reais necessidades do povo. Surgem projetos e mais projetos que sustentam seu desejo de ser útil e assegurar ais que dão o dinheiro sua permanência no campo. Mesmo sem a língua tribal, um conhecimento muito profundo da antropologia local, tudo é visto como aceitável sendo que o emocional governa o racional.

Já a África Sujeito é a que Tiken Jah procura mostrar em sua musica que me fez chorar, uma humildade e respeito pelo povo, eu não estou aqui porque amo a África, em primeiro lugar amo a Deus que me ajuda a suportar e agüentar tudo na África: dos ônibus lotados, água, comida, legumes, frutas, doenças, cheiro, gritos, choros, sorrisos, zombaria, amizade, aceitação, até mesmo a morte.

África como sujeito precisa mostrar crianças estudando, igrejas adorando, gente trabalhando, colhendo o milhet, o sorriso dos que sofrem e a falta de depressão que quase não existe comparado ao Brasil.

Gostaria de ver fotos das belas praias, dos belos casarões que são alugados aos naasaras (estrangeiros), os produtos que são ganhos e exportados para o exterior, dos seminários e mais seminários que existem no país e das centenas de Ongs que estão em atuação.

Concordo com Agostinho que na sua época viu o reino nos pobres sendo a riqueza da igreja. Não gostaria de esta sentado escutando e vendo a África objeto e depois como se nada tivesse acontecendo sair para gastar com meus amigos apenas para sentir-se bem ou criar piadinhas com as fotos e vídeos mostrados.

Que um dia cada um possa ver no fundo do coração a real motivação desse sensacionalismo barato que mancha o trabalho de muitos que tratam a África como sujeito.


Cristiano Carneiro

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