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Não Jureis... A Tradição do Tapa Dewtere
Um País onde a maioria é analfabeta qual será a utilidade dos livros? Certa vez estava viajando para o interior do Ceara quando percebi um vendedor de jornal que gritava para os passageiros do ônibus : Olha o Jornal .... Olha o Jornal ...
Um individuo mal humorado disse ao jovem, ninguém esta interessado em jornal aqui não camarada pois são todos analfabetos. O pobre vendedor olhou para ele com força de vontade e disse: Rapaz, e quem disse que era para ler? Compre e veja apenas as imagens.
A frase do vendedor calou o senhor que havia tentado acabar com a venda do simples jornaleiro e ao escutar sua frase pensei como o povo é perseverante.
A primeira vez foi quando um Velho Boiadeiro nômade no mercado de Nasumbou (
O segundo foi em Burow mesmo um soldado parou-me na rua central do mercado e questionou-me sobre os livros que eu vendia, ele queria saber se entre os livros eu tinha o Alcorão. Eu respondi que não, pois não existia uma tradução
O alcorão é um livro mais que sagrado para os fulanis ele é místico e poderoso, quando uma pessoa esta doente ou com má sorte basta pedir um trecho liquido para beber uma vez que o individuo não sabe ler. O Moodibo (líder islâmico) escreve numa placa de madeira, tinta de carvão, saliva e perfume e depois vende por uns R$ 5,00 o preço varia dependendo da fama do charlatão. Alguns pela ignorância morrem bebendo essa água suja crendo que serão curados quando na verdade estão sendo enganados e fazendo mal para saúde.
Para concluir descobri recentemente que quando alguém tem duvida ou esta querendo ganhar algo na justiça tradicional basta chamar o Moodibo, pagar R$ 60,00 e diante de testemunhas jurar batendo no livro (Alcorão) afirmando sua inocência ou acusando a vitima. Por exemplo certo homem que viajava muito toda vez que chegava desconfiava de sua esposa que por vezes ficava só em casa nas suas ausências, se ela tinha lhe traído durante esse tempo. Para resolver o problema eles se reuniam e a esposa devia jurar pelo Dewtere Kurana( Alcorao) que não havia traído seu esposo. A Senhora fez tantas vezes isso que um belo dia ela pediu a seu marido para jurar diante do livro que ele também lá onde esteve viajando não havia traído ela. Desde esse dia o marido pediu divorcio. Caso alguém bata no livro e jure sendo que esta errado, segundo os fulanis essa pessoa morrera dentro de poucos dias.
Haawa uma viúva pobre teve que comparecer diante do juiz e do livro para afirmar que após a morte de seu marido ela não roubou nenhuma vaca e que todas as cabras que possui hoje são dela e de seus filhos. Uma vez que quem morreu na historia depois que houve a reunião foi o irmão do Moodibo que já estava doente e desesperado atrás de remédios em todo país, todos ficaram assustados com o acontecimento. Na segunda reunião(Batu em fulfulde) ela saiu vitoriosa sobre o filho do falecido que veio de Gana(País vizinho depois de passar 13 anos longe , alegando que todos os animais pertenciam a seu pai.
Livros devem serem respeitados, bebidos, batidos com juramento e etc... menos lido. África precisa de educação e ação consciente de todas as implicações que estão por traz de um simples LIVRO. Afinal de conta é um cultura Oral voltada para o passado e não para o futuro.
Cristiano Carneiro Ouagadougou 12/08/2011
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